quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Pastéis de vento

O lugar era deserto. Havia uma luminosidade intensa do sol que apenas começa a declinar... as sombras ainda não eram compridas. Nenhuma pessoa por perto. Trazia uma paz melancólica, que só faria sentido se pudesse ser compartilhada.

Dentro daquela casa, desconhecida por completo, mas tão acolhedora que eu podia acreditar que sempre foi minha, eu observava e conseguia aceitar tudo nela, os móveis simples e antigos, as cortinas cafonas e coisas quebradas... O meu pensamento urbano contaminado chegou a notar que a construção não apresentava segurança alguma. Mas quem precisaria? Não havia ninguém por perto, talvez nunca houvesse! O lugar inteiro era abandonado... por isso mesmo, muito mais perigoso. Uma espécie de cativeiro no deserto. Sol, pó e solidão.

Observei cada móvel, baús, copos bonitos, cadeiras de madeira, sem tocar. Era tudo muito antiquado... mas tão adorável! Imaginei a noite daquele lugar. Eu estaria por lá...
Olhava pela janela e tudo era um grande nada!

De repente, escuto um barulho. Você caminhava em direção a minha casa, mas eu não o via. Senti que você entraria pela porta. Corri para o fundo da sala, comprimi a respiração... e você entrou.
Você já me conhecia! Eu já te conhecia. No fundo eu te esperava (talvez para o jantar). Você trazia coisas com você, ferramentas, utensílios, coisas, coisas...
Você jamais me faria mal e eu jamais faria mal a você. Era a única certeza.

Nos cumprimentamos. Conversamos coisas amenas... nos demos muito bem. Jantamos. Fiquei em dúvida se você era meu sequestrador, mas adorei aquele cativeiro. Sentíamos o mesmo um pelo outro.

Quando o Sol desceu e o céu suspendeu o brilho das estrelas, o calor cedeu lugar a uma deliciosa brisa, fomos para uma das janelas contemplar o mar. Você o via tanto quanto eu! Ele era branco e havia um navio pirata lá ao longe! A casa não tinha luz, porém recebia uma brilho estranhíssimo vindo lá de fora. Era como se a lua estivesse ao redor da casa... A brisa soprava a cortina cafona e cheia de pó, e nós nos olhávamos com afeição. Você me amava e eu te amava!

Você com os seus conhecimentos me ensinaria muitas coisas e eu, com os meus conhecimentos cuidaria de você! Nos encheríamos de pó, junto daqueles móveis pelos quais me afeiçoei!

Naquela noite, fizemos da minha casa um mausoléu e decidimos morar ali, juntos para sempre.

domingo, 12 de outubro de 2008

Carta para o Rei de um reino extinto.

(...) Quero tuas lágrimas na palma das minhas mãos. Quero a dor da sua mágoa confundindo-se com a do seu prazer mais intenso. Deita nesta tenra relva... e dê-me com seu hálito, a vida!
Povoa este meu reino vazio com a tua presença. Assusta meus pássaros, meus bichos, minhas flores com a sua voz, estranha a este lugar.
Paralisa o tempo, ou faça-o correr... Faça chover! Molha esse campo inteiro, fertiliza esta terra, que bom fruto há de colher.
(...)